sexta-feira, 20 de junho de 2008

Para vós uma canção que eu gosto muito...

Para todos um poema de Sophia de Mello Breyner...em jeito de despedida

A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Um poema para um grande Amigo

Em nome de toda a turma, o Diogo Costa, escolheu este poema para dedicar ao Samuel, o seu melhor amigo.

Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!


Alexandre O'Neill

sexta-feira, 13 de junho de 2008

A FADA DAS CRIANÇAS

Do seu longínquo reino cor-de-rosa,
Voando pela noite silenciosa,
A fada das crianças vem, luzindo.
Papoulas a coroam, e, cobrindo
Seu corpo todo, a tornam misteriosa.


À criança que dorme chega leve,

E, pondo-lhe na fronte a mão de neve,

Os seus cabelos de ouro acaricia
E sonhos lindos, como ninguém teve,
A sentir a criança principia.


E todos os brinquedos se transformam

Em coisas vivas, e um cortejo formam:

Cavalos e soldados e bonecas,

Ursos pretos, que vêm, vão e tornam,
E palhaços que tocam em rabecas...


E há figuras pequenas e engraçadas

Que brincam e dão saltos e passadas...

Mas vem o dia, e, leve e graciosa,

Pé ante pé, volta a melhor das fadas

Ao seu longínquo reino cor-de-rosa.

Fernando Pessoa, Poesias Inéditas

PARABÉNS, FERNANDO PESSOA


Fernando António Nogueira Pessoa, mais conhecido como Fernando Pessoa, nasceu em Lisboa, no dia 13 de Junho de 1888. Faria, hoje, 120 anos!


terça-feira, 10 de junho de 2008

O meu país sabe a amoras bravas

O meu país sabe a amoras bravas

no verão.

Ninguém ignora que não é grande,

nem inteligente, nem elegante o meu país,

mas tem esta voz doce

de quem acorda cedo para cantar nas silvas.

Raramente falei do meu país, talvez

nem goste dele, mas quando um amigo

me traz amoras bravas

os seus muros parecem-me brancos,

reparo que também no meu país o céu é azul.

Eugénio de Andrade, O Outro Nome da Terra(1988)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Dia 10 de Junho- Dia de Portugal


As origens do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades remotam ao ínicio do século XX (1924). O Dia de Camões começou a ser festejado a nível nacional com o Estado Novo (um regime instituído em Portugal por António de Oliveira Salazar, em 1933).
Porquê Dia de Portugal e de Camões? Segundo Conceição Meireles (investigadora especialista em História Contemporânea de Portugal) Camões representava o génio da pátria, representava Portugal na sua dimensão mais esplendorosa e mais genial. O feriado em honra de Camões (um dos simbolos da Nação) passou a ser a 10 de Junho uma vez que esta data foi apontada como sendo a da morte do poeta que escreveu "Os Lusíadas".
Porquê Dia das Comunidades?Até ao 25 de Abril de 1974, o 10 de Junho era conhecido como o Dia de Camões, de Portugal e da Raça. Oliveira Salazar, na inauguração do Estádio Nacional em 1944, tinha denominado também o dia 10 de Junho como o Dia da Raça em memória das vítimas da guerra colonial. A partir de 1963, o feriado do 10 de Junho assumiu-se como uma homenagem às Forças Armadas e numa exaltação da guerra e do poder colonial. A segunda republica não se revê neste feriado, pelo que, em 1978, o converte em Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Em 2006, a cidade do Porto será a anfitriã das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. O Presidente da República nomeou como Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas o Dr. João Pedro Bénard da Costa.



Pesquisa feita por:

Catarina Oliveira

quinta-feira, 5 de junho de 2008

DIA MUNDIAL DO AMBIENTE - II

Que lugar senão este

I

Que lugar senão este

alguém nos ofereceu

como uma prenda de anos?

Que lugar senão este

um dia nos deixaram

com terra, mar e céu?

Que lugar senão este

havemos de oferecer

a quem de nós rasgar

o espanto do futuro?

Que lugar senão este

- não me podem dizer?

Aqui a cotovia

nos canta seus segredos,

mas os bichos da terra,

de narizes no ar

e corações aflitos,

cirandavam entre medos!

II

Nos rios e ribeiros

é lenta a correria

das águas destroçadas.

Onde a pureza antiga

que as perdizes bebiam

em longas madrugadas?

Já nos lagos as nuvens

não se reflectem, não.

E pela mão dos barcos

navegam os silêncios

que um dia a porto firme

nem sequer chegarão.

III

O ar que respiramos

será falta de ar?

Quem nos espreita do alto,

pelo buraco feito

na camada de ozono?

É o perigo que espreita

um mundo ao abandono.

IV

Que mundo senão este

alguém nos ofereceu

como uma prenda de anos?

Que mundo senão este

um dia nos deixaram

com terra, mar e céu?

Que mundo senão este

deixaremos um dia

para oferecer a quem

depois de nós vier?

Que mundo senão este

- não me podem dizer?

Maria Alberta Menéres, in No Coração do Trevo - Poesia para Crianças. Editora Verbo. 1992


DIA MUNDIAL DO AMBIENTE - I



Apanhador de pirilampos

A poluição dos escapes
os herbicidas
foram-vos empurrando
para fora
do Pinheiro Manso

antiga minha luz
particular
em noites doces
procuro-vos
e nada encontro
senão lixo
entre as folhas

fazeis-me
tanta falta
neste mundo escuro


Fernando Assis Pacheco, " A Bela do Bairro e Outros Poemas", 1986